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Não só de ônibus se transita na metrópole: a emergência do modal metroferroviário na mobilidade em Fortaleza

Data da publicação: 24 de novembro de 2025 Categoria: CRÔNICIDADES

Por Francisco Thalvanys Marques Duarte

Guardo com carinho as lembranças da infância em que viajava de trem até a casa de minha avó paterna, em Maracanaú. Eu embarcava na antiga Estação Otávio Bonfim — localizada onde hoje se cruzam as avenidas José Jatahy e Bezerra de Menezes — e, durante o trajeto, observava atentamente a paisagem urbana: casas, prédios, ruas, avenidas e toda a movimentação da cidade. Em determinado trecho, especialmente ao longo da Avenida José Bastos, eu adorava “apostar” corrida entre o trem e os ônibus. Todas as vezes, o trem vencia, o que me fazia questionar, com a ingenuidade própria de uma criança: “Por que não existem mais trens circulando por Fortaleza, já que são mais rápidos?”

Hoje, já crescido e vendo que Fortaleza cresce também e de maneira acelerada e ganha destaque nacional. Em 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade chegou a 2.428.708 habitantes, tornando-se a mais populosa do Nordeste e a quarta do país. No âmbito econômico, é considerada a principal força da região e a 11ª maior economia do Brasil.

Esse crescimento intensificou a expansão urbana e contribuiu para o surgimento de novas centralidades, como Parangaba, Aldeota e Messejana, que passaram a disputar protagonismo com o Centro tradicional.

Nesse contexto, a capital passou a demandar novos modais de transporte, o que motivou a implantação do Metrô e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Esses modais, sem dúvida, qualificaram a mobilidade da metrópole em desenvolvimento. Porém, diante do ritmo de expansão urbana, ainda se mostram insuficientes. A cidade continua fortemente dependente do ônibus, revelando limitações estruturais que prejudicam a circulação cotidiana.

Nos últimos meses, presenciamos uma crise evidente no sistema de mobilidade. A imprensa noticiou redução da frota, conflitos entre empresários e o Poder Público em relação à tarifa, além da falta de investimentos e da baixa qualidade do serviço. São fatores que acentuam a fragilidade do modelo atual.

Isso nos leva novamente ao questionamento inicial: por que Fortaleza não amplia sua rede de trens (Metrô e VLT)? O modal metroferroviário permanece restrito a pequenas áreas da cidade e da Região Metropolitana. Embora haja iniciativas em andamento — como o Ramal Aeroporto–Castelão do VLT e a Linha Leste do Metrô, que ligará o Centro à Aldeota —, tais projetos ainda não são suficientes. Os constantes atrasos nas obras reforçam um cenário pouco animador para a mobilidade da maior metrópole do Nordeste.

Esse quadro impacta profundamente a dinâmica socioespacial da capital, sobretudo nas periferias, que são as áreas mais desassistidas. A Grande Messejana, por exemplo, que engloba bairros como Ancuri, Curió, Pedras e Jangurussu, e a região do Grande Bom Jardim — com Canidezinho, Siqueira, Granja Portugal, Granja Lisboa, Bonsucesso, entre outros — sofrem de forma intensa os efeitos da limitação do transporte sobre trilhos.

Segundo dados do Metrofor e do Sindiônibus, o sistema metroferroviário transporta, em média, 30 mil passageiros por dia, enquanto o ônibus movimenta cerca de 500 mil pessoas diariamente. Esses números evidenciam a dependência quase exclusiva do modal ônibus. Caso o metrô e o VLT tivessem maior alcance, seria possível equilibrar a demanda, reduzindo a sobrecarga dos ônibus e aumentando a eficiência do transporte sobre trilhos.

Quando observamos outras cidades, percebemos o contraste. Fortaleza possui cerca de 313 km² — muito menos que São Paulo, com aproximadamente 1.521 km², praticamente toda atendida por rede metroferroviária e ainda em expansão. Paris, com cerca de 105 km², menor que Fortaleza, dispõe de uma cobertura extensa de metrô. Esses exemplos mostram que cidades com grande dinâmica urbana, independentemente do tamanho físico, reconhecem a importância estratégica do transporte sobre trilhos para sustentar seus fluxos socioespaciais.

Assim, ao expor o cenário atual da mobilidade em Fortaleza e compará-lo a outras realidades, retomo — e aprofundo — o questionamento inicial: “Por que Fortaleza não expande de forma efetiva seu modal metroferroviário?” As respostas podem ser diversas: a influência dos empresários do setor de ônibus, o alto custo de implantação e manutenção, o longo tempo de execução das obras e os transtornos causados à população. No entanto, diante da demanda crescente e das limitações do sistema atual, o que se constata é que Fortaleza precisa, urgentemente, investir em um modal metroferroviário mais robusto e abrangente.

 

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