A Influência das “Clínicas Médicas Populares” na Reconfiguração do Espaço Urbano no Centro de Fortaleza
ADAPTADO POR:
Mariana Ingrid Sousa Melo
Universidade Federal do Ceará
A dinâmica urbana do Centro de Fortaleza é perceptível desde a formação da capital enquanto núcleo urbano e como se desenvolveu enquanto cidade e metrópole, porém a partir da inserção e expansão dos estabelecimentos populares de saúde denominados “clínicas médicas populares”, no final da década de 1990, é possível apreender os elementos que fazem de determinada área do bairro atrativo para esta funcionalidade. Concentrando-se inicialmente nos arredores da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza estas clínicas se estendem pelas ruas adjacentes. A figura 1 apresenta a localização das clínicas populares no entorno das vias de grandes fluxos de transporte de Fortaleza.
Figura 1 – Mapa de localização dos hospitais e clínicas médicas populares no bairro Centro em Fortaleza – 2015
Fonte: GODOY, C. V. 2015
As transformações espaciais que aconteceram no Centro estiveram associadas a uma nova organização e devem ser entendidas em uma perspectiva interescalar e relacional. Mesmo com a presença de novas centralidades em Fortaleza, o Centro não perdeu sua força econômica, aprimorando sua capacidade de redefinir seu papel no espaço intrametropolitano e na própria rede urbana do estado do Ceará. Essa expansão e a permanência das clínicas no bairro Centro (Figura 1) possuem a capacidade de atrair a população não somente da capital a partir dos bairros, mas também do interior do estado revelando assimetrias existentes na rede urbana estadual, e apontando a forte centralização dos serviços de saúde na capital. A significativa valorização das edificações situadas nos arredores do quarteirão das clínicas (figura 2) ocorreu em conjunto com a ampliação do fluxo populacional em direção aos serviços de saúde do bairro Centro. Godoy (2015) justifica a escolha do bairro Centro para entender a inserção das clínicas populares na sua pesquisa com base na reconfiguração espacial e no reforço a centralidade do bairro após a instalação das clínicas médicas o que gerou uma nova dinâmica por meio da valorização dos aluguéis dos imóveis comerciais adaptando antigas lojas em clínicas médicas, além da transformação espacial em decorrência da substituição de uma área de prostituição e o aumento significativo do fluxo da população em busca desse atendimento, até a valorização da área do entorno, através das novas formas de ação e das mudanças de função do local.
Figura 2 – Mapa de localização dos equipamentos urbanos e serviços de saúde no Quarteirão das Clínicas no bairro Centro em Fortaleza
Fonte: GODOY, C. V. 2015
Utilizando-se de uma escala estadual para entender esse fenômeno, considerou-se que os atendimentos nessas clínicas populares foram realizados por pessoas que saíram de outras cidades do estado. Conforme Godoy (2015), os princípios da lei universal da saúde não coincidem com a realidade e as limitações apresentadas pela rede pública de saúde em Fortaleza, pois expõem um fato que está presente no cotidiano da população cearense – o limitado e conturbado acesso da população aos serviços públicos de saúde. Mesmo a capital apresentando uma infraestrutura dos hospitais de referência, e tenha sido considerada pelo IBGE como um potencial centro prestador de serviços de alta complexidade com uma abrangência regional, as condições de atendimento dos serviços disponibilizados pelo setor público em Fortaleza ainda são inadequadas.
Desta forma, a precariedade dos serviços públicos do interior do estado intensifica os transtornos dos serviços de saúde em Fortaleza, transferindo a responsabilidade para os hospitais da capital, fato que compromete o funcionamento adequado dessas unidades. Godoy (2015) afirma que a carência de especialidades médicas no interior do estado do Ceará é um dos principais fatores que estimulam os fluxos populacionais dos habitantes do interior do estado em direção à capital, em busca de serviços mais especializados de saúde, no qual a maior parte da demanda se concentra no setor público de saúde fazendo com que esta situação favorecesse o surgimento e a ampliação das empresas de saúde privadas, por conta das deficiências apresentadas pelo setor da saúde pública estadual.
Portanto, as clínicas médicas populares reconfiguraram essas áreas consideradas desvalorizadas e ocupadas por atividades depreciativas transformando-se em corredores que oferecem serviços complementares aos equipamentos existentes, tais como hospitais de urgência e alguns centros de especialidades médicas. A presença destes equipamentos no Centro reforçou não somente a centralidade, mas alterou a dinâmica socioeconômica da cidade influenciando na rede de saúde do estado.
Referência:
GODOY, Claudiana Viana. A geografia dos serviços e equipamentos da saúde: a expansão das “clínicas médicas populares” no Centro em Fortaleza – CE. 2015. 171 f. Dissertação (mestrado em geografia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, 2015.