Eu vou para onde a rua me levar… Os logradouros do Centro de Fortaleza pelo olhar da Geografia e da Toponímia.
ADAPTADO POR:
Gleilson Angelo da Silva
Universidade Federal do Ceará
Os logradouros em suas mais variadas formas fazem parte da dinâmica das cidades e são elementos essenciais da morfologia urbana, uma vez que, fazem parte do espaço público e refletem o modo como o lugar foi construído não somente pela forma como se apresenta, mas pela denominação que possui e que, provavelmente, foi alterada ao longo do tempo (DICK, 1996). Fortaleza, sobretudo o seu Centro cujo espaço foi a própria cidade por mais de cem anos, resguarda parte da memória arquitetônica, mas também estrutural pelas suas ruas estreitas com nomes de personalidades de outros tempos, praças arborizadas e igrejas ornamentadas que demonstram resquícios de uma época em que a capital passara por profundas transformações urbanas, sociais e culturais (PONTE, 2014).
Figura 1 – Localização do bairro Centro em Fortaleza.
Fonte: Elaborado pelo autor (a), 2019.
A partir da figura 1, analisou-se a nomenclatura de seus logradouros por meio da Toponímia, ou seja, o estudo das denominações de lugares (CARVALHINHOS, 2001) e, fazendo uma breve retrospectiva, buscou-se elencar elementos pertinentes que tivessem relação direta e indireta com o conjunto de nomenclatura dos logradouros de modo que as repentinas mudanças fossem compreendidas até as que conhecemos nos dias atuais. As relações políticas, administrativas, econômicas, culturais e sociais foram de fundamental importância para apreender desde os motivos que levaram à fundação da vila e à elevação de Fortaleza como capital até a construção, padronização, alargamento e prolongamento de vias e reformas de praças e demais fatores relevantes que fizeram com que os logradouros passassem por intensas transformações.
A formação dos nomes (DICK, 1976) baseia-se em diversos fatores, ou seja, os corpos celestes, dimensões geográficas e geométricas, dentre outras constituem este conjunto (DICK, 1990b). A partir dos primeiros levantamentos de logradouros de Fortaleza (a partir de 1810) até os que são encontrados atualmente muitas foram as alterações e os processos de instalação de equipamentos, aumento da população, tendências internacionais e urbanização fazem parte dos fatores que fizeram com que as primeiras denominações fossem substituídas.
A expansão de Fortaleza para além do Centro fez com que algumas denominações permanecessem e continuassem intactas revelando personagens não somente da República, mas do Império e da Colônia, antigas formas de denominação a partir de algum equipamento importante (igreja, hospital, mercado, enfim), datas importantes para a história da cidade, mas sobretudo, é necessário compreender a escolha de determinados personagens frente a outros revelando uma seletividade da memória que ultrapassa a escala local e alcança um nível nacional e até internacional.
Quadro 1 – Relação de alguns logradouros do Centro de Fortaleza de 1810 a 2019.
RELAÇÃO DE ALGUNS LOGRADOUROS DO CENTRO DE FORTALEZA (1810 – 2019) | ||||||
1810- 1855 |
1856 |
1857- 1887 |
1888- 1889 |
1890 |
1891- 1933 |
1933- 2019 |
– | – | Boulevard do Livramento (1875) | Duque de Caxias (1889) | Tv. 1 | Duque de Caxias | Avenida Duque de Caxias |
– | Municipal | – | Municipal | Tv. 9 | 24 de janeiro (1912) e do Ouvidor (popular) | Guilherme Rocha |
Rua da Tesouraria (1802) / Belas (1836) / Monteiro | Erário ou Cacimba | R. Dr. José Lourenço (1882) | Assembleia | Tv. 11 | Assembleia | São Paulo (1933) |
Rua das Flores | Matriz / Flores | Travessa das Flores (1859) | Manoel Bezerra / Castro e Silva | Tv. 15a | Senador Castro e Silva / Castro e Silva | Castro e Silva |
Rua Nova del Rei (1828) | Palma / Fogo | Rua da Palma completa (1877) | Major Facundo | R. 3 | Major Facundo | Major Facundo |
Rua Direita dos mercadores / do Riacho (1828) | Mercadores | – | Sena Madureira (1889) | – | Conde D’Eu (1888 a 1892) e dos mercadores | Sena Madureira (Rua São Paulo até o Parque da Liberdade) |
Praça do Conselho | Matriz | – | Caio Prado (1889) | Sé | Pedro II (1913) | Sé |
– | Feira Nova | Pedro II (1859) / Ferreira (1871) | Municipal ou Municipalidade (1880) | Municipal | Praça do Ferreira | Praça do Ferreira |
– | Praça da Lagoinha | Coronel Teodorico (1881) | 16 de novembro (1889) | 16 de outubro | Comendador Teodorico (1891) | Capistrano de Abreu |
– | Largo do Garrote | – | – | Parque da liberdade | Parque da Independência (1922) | Parque da Liberdade |
Fonte: Elaborado pelo autor (a), 2019.
Silva (2019) aponta que as denominações oficiais dos logradouros do Centro de Fortaleza permite conhecer uma parte da história e faz analogia a Abreu (2006) quando menciona o quebra-cabeça histórico constituído por informações e lacunas em diversos momentos pela falta de documentos e vestígios que explicitem ou apresentem alguns acontecimentos. A capital alencarina cresceu, expandiu seus limites e hoje é uma das maiores metrópoles do país, sendo referência em diversos setores e também pela sua localização, facilitando seus acordos comerciais. Com este crescimento, novas vias foram abertas e novas praças foram construídas fazendo com que novas denominações fossem implantadas e também alteradas, assim como os bairros que foram surgindo ao longo dos anos implicando numa organização e definição de limites para cada um deles, mas os logradouros do Centro permanecem com as mesmas denominações desde a década de 1930 no qual foi a última vez em que houve uma alteração significativa.
Referência Bibliográfica:
SILVA, Gleilson Angelo da. VOU À RUA: ESTUDOS SOBRE OS LOGRADOUROS DO CENTRO DE FORTALEZA ATRAVÉS DA GEOGRAFIA E DA TOPONÍMIA. 246 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Geografia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019.