O Distrito de Pecém na Órbita da Região Metropolitana de Fortaleza
ADAPTADO POR:
Francisco Gabriel da SILVA NETO
Universidade Federal do Ceará
Há mais de duas décadas o Estado do Ceará tem desenvolvido estratégias com o propósito de inserir-se como uma peça no mercado global. Os investimentos para a modernização da estrutura produtiva resultaram em transformações socioespaciais por meio de incentivos nos eixos do turismo, do agronegócio e da indústria. Um exemplo dessa estratégia orientada pelo Estado é a instalação no Pecém, distrito pertencente ao município de São Gonçalo do Amarante, de um porto e um complexo industrial que contribuíram para a inclusão deste município na RMF e por diversas metamorfoses socioespaciais no litoral com orientação da expansão da região metropolitana para o setor oeste de Fortaleza.
Incorporado em 1999 a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), após o início da implantação do Complexo industrial e Portuário do Pecém (CIPP), São Gonçalo do Amarante, foi palco de grandes transformações, principalmente no distrito de Pecém, onde até o final dos anos 1990 tinha suas atividades econômicas relacionadas a atividades primárias, como a pesca, a agricultura e o artesanato; a vilegiatura em seu litoral.
A implantação do CIPP foi preponderante para o direcionamento da expansão da metrópole para oeste. O fato do distrito de Pecém possuir população reduzida, faz com que grande parte dos trabalhadores das obras do porto seja proveniente de outros municípios e até de outros estados. Consequentemente, ocorreram diversos problemas sociais muito mais comuns a metrópole, tais como aumento do uso de drogas, prostituição e violência, além da ampliação da demanda por serviços, comercio, habitações, especulação imobiliária, ocupação de margens de rio, faixa de praia, abertura de loteamentos. No tocante à economia, à transição de atividades de primárias para secundárias e terciárias, deu-se de forma acelerada.
Marcados por eventos relacionados ao porto que causaram grande alteração no distrito de Pecém, três períodos merecem destaque, quais sejam: o da fase anterior à construção do porto (1950 – 2000), o da fase de construção e consolidação do porto (2000 – 2006) e, por fim aquele da fase de consolidação do complexo industrial (2006 – 2013). No primeiro, antes da instalação do porto de (1950 – 2000), Pecém, se resumia a uma vila de pescadores e destino de vilegiaturistas. O segundo inicia-se quando ocorre a construção do porto onde demandou-se uma elevada mão de obra atraindo trabalhadores de todos os estados do país, resultando em significativas alterações socioespaciais na configuração urbana local para abrigar e suprir a necessidade daqueles trabalhadores. O terceiro inicia-se quando as primeiras indústrias são instaladas, o que intensificou ainda mais as transformações locais, atraindo trabalhadores da construção civil para as obras da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
Um mapa de zoneamento foi elaborado pelo autor, onde procurou-se definir as zonas e suas formas, funções e ações realizadas pelos agentes produtores do espaço. Neste mapa podemos identificar a área urbana de Pecém, a área de preservação ambiental, a localização da área do CIPP e a porção ocupada das empresas instaladas no CIPP. Também é possível visualizar os recursos hídricos, vias, as rodovias e localidades.
No mapa adaptado de São Gonçalo do Amarante fica evidenciado a evolução da expansão urbana do distrito de Pecém em dois momentos diferentes, em um curto espaço de tempo. Porém, o crescimento é de quase um terço de um período para o outro, englobado nos períodos de construção do porto e a instalação das indústrias, momentos que demandaram bastante mão de obra na construção civil e os operários das indústrias, consequentemente impulsionando a procura de serviços e o incremento da economia local.
A integração de São Gonçalo do Amarante não ocorre de maneira semelhante aos outros municípios da região metropolitana de Fortaleza. Também não ocorre da mesma maneira aos limites do próprio município, onde o distrito de Pecém possui uma dinâmica diferenciada frente à sede municipal, resultado da instalação do porto e do complexo industrial. O fluxo de capital e de pessoas no Pecém é mais intenso. Os veículos que se dirigiam ao porto e o quantitativo de operários das indústrias e da construção se integravam à paisagem do distrito confirmando o crescimento intenso no terceiro setor da economia. A implementação da CIPP colocou o Pecém na órbita da RMF e provocou transformações socioespaciais na localidade, bem como todos os problemas que a alta densidade populacional traz.
Referência Bibliográfica:
BORGES, Felipe da Rocha. Expansão metropolitana de Fortaleza e a produção do espaço de Pecém – São Gonçalo do Amarante – CE. 2014. 127 f. Dissertação (Mestrado em geografia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, 2014. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/17618