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Cidades africanas: outra modernidade ou modernidade não-exemplar?

Data da publicação: 5 de dezembro de 2025 Categoria: CRÔNICIDADES

Por:  Garcia Neves Quitari 

São as cidades africanas também reflexo de um longo processo de transformação do espaço por meio de técnicas e ciências? Embora seu papel no mundo de hoje nem sempre seja reconhecido, poucas delas escaparam ao processo de globalização desde a sua gênese. Seus rios e mares integram as chamadas veias abertas do mundo. É o caso de Zanzibar (Tanzânia), Ouidah (Benim), Berbera (Somália) e Cidade do Cabo (África do Sul).

O Iluminismo, evento que transformaria a humanidade, encontrou nos portos africanos fontes de recursos e de conhecimentos – inclusive matemáticos e geométricos. Basta lembrar Tebas, Mênfis e Alexandria (Egito), Cartago (Tunísia), Timbuktu (Mali), Mombasa (Quênia), Aksum (Etiópia) e Cirene (Líbia), a título de exemplificação.

Seriam essas cidades hoje a expressão das imperfeições do capitalismo global? Também não se pode pensar nas engrenagens atuais do capital sem algumas delas, cuja aparência de ordem e funcionalidade parece atender ao mínimo desejado para servir de vitrine ao mundo.

As cidades africanas são, na forma, a reprodução de um modo de vida global, porém inacabadas na função e insurgentes na produção do seu espaço. Há um misto de modernidade e contradição profícua que gera singularidades, como a informalidade urbana. É mister saber o quanto um olhar pautado pela estética ocidental pode deixar escapar a compreensão dessas dinâmicas sociais, incluindo a economia política das redes de parentesco e das solidariedades étnicas e religiosas que moldam incessantemente o território da vida.

Se as cidades africanas foram ocupadas e colonizadas, será o direito à cidade uma revolução? Parece impossível não pensá-las como espaços de lutas e emancipação, visto que, os quilombos globais são lugares de resistência e resiliência.

As cidades africanas se organizam pela ação do Estado. Mas surge a questão: qual Estado? Quase todas elas foram erguidas pelo Estado Colonial, desde sempre espaços negados aos africanos. As cidades racializadas não foram exceção à dominação. Nada é mais simbólico disso do que Robben Island, na Cidade do Cabo, o exílio de Mandela. Sem falar de Lourenço Marques (hoje Maputo), Luanda e Bissau, que só se “enegreceram” através da revolução.

Essas cidades são resultado da modernidade, mas resta saber qual.  Hoje, suas cores vibrantes – nos espelhos dos edifícios, nas pessoas e nas coisas –, seus perfumes e aromas insistem em uma outra organização do urbano, que nunca separou totalmente a cidade do campo, o asfalto da areia.

As metrópoles africanas vibram com uma modernidade que não é senão a sua própria. Joanesburgo, Lagos, Kinshasa, Nairobi, Addis Abeba e tantas outras são exemplos dessa outra modernidade. Como no passado, continuam organizadas por um Estado bifurcado, que já não governa apenas para cidadãos e objetos, mas para cidadãos e sujeitos,  parafraseando Mahmood Mamdani.

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