Desigualdade Socioespacial no Espaço Urbano de Fortaleza: Estado, Mercado Imobiliário e Resistência Popular
ADAPTADO POR:
Francisco Herbster Alencar Cruz
herbstergeo@gmail.com
Universidade Federal do Ceará
A produção do espaço urbano é desigual, pois representa os interesses dos diversos atores sociais que o constituem. Em Fortaleza, as disparidades socioeconômicas são visíveis e se manifestam na concentração de equipamentos urbanos públicos, serviços privados e infraestrutura em alguns bairros em detrimento de outros.
Assim, a cidade cresce em direções opostas com características díspares: nas regiões leste e sudeste, em meio à precariedade, condomínios verticais e horizontais predominam na paisagem; à oeste e sudoeste, os assentamentos urbanos precários e as ações de habitação popular abrangem a maior parte das tipologias (BARBOSA, 2016).
Esse fenômeno é influenciado pelo acesso à moradia, onde há forte atuação dos setores imobiliário-habitacional na produção do espaço. Ou seja, os interesses do capital se sobrepõem aos sociais, privilegiando determinados grupos com poder econômico.
Além disso, a associação do grande capital com o Estado permitiu a captura dos interesses públicos pelo privado, não raramente expressa por concessões políticas de grande impacto na legislação. Por conseguinte, o espaço urbano passa a ser valorizado enquanto possibilidade de acumulação, já que seu valor tende a ser constantemente incrementado e é maior do que a terra rural (BARBOSA, 2016).
Por isso, os mais pobres são os mais prejudicados, já que não possuem acesso ao mercado imobiliário e sofrem influências diretas das ações de grandes empresas e do Estado por meio de obras públicas ou privadas. Em Fortaleza, como ação de preparação para a Copa do Mundo de 2014, milhares de famílias foram impactadas pela construção de infraestruturas, notadamente do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), dentre outros.
Isso evidencia os conflitos pela cidade, concretizados tanto na produção da moradia quanto no direito à cidade, que impacta diretamente as camadas mais pobres (BARBOSA, 2016). Desse modo, estes se veem impelidos à formação dos assentamentos urbanos precários (figura a seguir), caracterizados pela quase ausência dos serviços públicos básicos e grande desigualdade, encontrados em quase todos os bairros de Fortaleza.
A tese (BARBOSA, 2016) em questão analisa o Grande Mucuripe, formado pelos bairros Mucuripe, Varjota, Papicu, Praia do Futuro I, Vicente Pinzón, Cais do Porto e De Lourdes. Esses têm sua formação associada tanto às práticas marítimas – valorização do espaço litorâneo e das atividades aí realizadas – quanto pelo deslocamento dos investimentos das classes média e média alta do Centro para o leste da cidade.
Além disso, a construção do Porto do Mucuripe, a constituição do corredor turístico e a forte presença do setor imobiliário para atender a determinadas classes, influenciaram a segregação socioespacial dessas localidades (ver figura a seguir). Assim, coexistem conflituosamente condomínios de luxo com favelas e cortiços, sendo estes últimos impactados por ações diretas do Estado, tanto na remoção quanto na realocação da população para outras áreas, como o conjunto habitacional Alto da Paz.
Sendo assim, a cidade capitalista produz precariedade à nível global, o que inclui Fortaleza, metrópole nacional com grandes disparidades intraurbanas. As ações do poder público podem ampliar esse fenômeno, seja na priorização de infraestruturas em bairros centrais, seja na ausência de políticas de moradia popular (BARBOSA, 2016).
As mobilizações populares de resistência são necessárias para a melhoria das condições de vida dessas populações, marcadamente afetadas pela desigualdade socioeconômica. Portanto, as influências desses fatores combinados produzem um espaço urbano díspare, conflituoso e desigual.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Anna Emília Maciel. Reestruturação socioespacial em Fortaleza e suas implicações na habitação. 2016. 206 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, 2016.