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Um grito na cidade: vulnerabilidade social e juventude

Data da publicação: 29 de outubro de 2025 Categoria: CRÔNICIDADES

Por: Galadriel Pereira da Silva

No meio das ruas existe um barulho. Não é natural, como se fosse o movimento dos ventos… Ele emana como mormaço das avenidas, mas se sente mais vivo e mais fresco. No contexto das periferias das grandes cidades, o alto nível de desigualdades socioespaciais remete a espaços de vulnerabilidade social. A exclusão e a vulnerabilidade social atingem os mais pobres de todas as idades — e os mais jovens não escapam.

De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, com dados de 2023, entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,9 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022, o equivalente a 22,3%, ou um em cada cinco integrantes nesta faixa. Neste mesmo ano, do total de 10,9 milhões de jovens que não estudavam e não estavam ocupados, 61,2% eram pobres, com renda domiciliar per capita inferior a US$ 6,85 por dia, e 14,8% eram extremamente pobres, com renda domiciliar per capita abaixo de US$ 2,15 por dia, de acordo com dados do Banco Mundial. Entre os jovens que estavam fora da escola e do mercado de trabalho, observa-se variações relacionadas aos níveis de pobreza conforme o grau de instrução: aqueles com o ensino fundamental incompleto representavam 77,1% em situação de pobreza e 23,0% na extrema pobreza, enquanto os que haviam concluído o fundamental ou tinham o médio incompleto registravam 72,5% em condições pobreza e 19,1% na extrema pobreza.

A vulnerabilidade social entre os jovens se expressa na dificuldade de acessar o mercado de trabalho, nas dúvidas sobre saúde sexual e reprodutiva, nas barreiras de um sistema educacional precarizado e até mesmo na baixa autoestima. Tudo o que envolve as dificuldades de viver na periferia de uma metrópole dentro de uma realidade corroída pela violência e criminalidade. Se, no cotidiano das cidades, a vida dos jovens fosse como um som, com certeza ela seria um grito!

Por muito tempo, na sociedade, os jovens foram tratados como um problema a ser resolvido. Seja pelo viés socioeconômico do “futuro da sociedade”, seja simplesmente pelo fato da rebeldia inerente ao desejo de viver, os jovens são mais do que um grupo etário — são marcas de identidades singulares e diversas, mas também de semelhanças e agrupamentos. Seja nas praças, nas praias, na cena clubber noturna das boates, nos bares, nos reggaes ou simplesmente nas esquinas, existe a vontade de viver o topo e alcançar a profundidade das experiências que a cidade pode proporcionar. Estar em contato com outros jovens e beijar, suar, dançar, sorrir… A juventude é controversa e tem apenas um fator bastante comum: ela quer pulsar o corpo livre! E, quando ela pulsa com a cidade, a expressão do urbano se torna jovem, porque a juventude não é apenas idade no tempo — é um momento contextualizado no espaço.

Compreender Fortaleza através de suas ruas e avenidas pode dar a impressão de que o meio urbano se contraiu em uma realidade onde tudo segue um murmúrio monótono, principalmente se olharmos para a verticalização e para os grandes edifícios. No entanto, no ponto cego dessa realidade, existem becos, vielas e comunidades onde jovens se apertam para enxergar o horizonte acima, bradando por espaços onde a vida não seja apenas feita de dor, mas também de prazer.

No caso de Fortaleza, “a cidade que mais investe na juventude”, apesar dos eventuais empecilhos que podem ocorrer na dificuldade de conseguir vagas ou na disponibilidade limitada de bolsas remuneradas, há uma variedade de programas como Bolsa Jovem, Jovens Futuros, Jovens Monitores e Juventude na Onda, que buscam oferecer renda, formação e lazer de qualidade aos jovens em diversas áreas.

Além disso, existem equipamentos urbanos criados para o público-alvo de 15 a 29 anos: os CUCAs.  Desde 2009, os Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte foram criados durante a gestão da petista Luizianne Lins e são um marco das políticas públicas voltadas à juventude na cidade, proporcionando cursos gratuitos, capacitação e diversão para os jovens e suas famílias.  

Os cinco CUCAs — Barra do Ceará, Mondubim, Jangurussu, José Walter e Pici — estão localizados nas periferias da cidade, provocando uma verdadeira transformação no cenário de vulnerabilidade social. Esses locais têm se mostrado verdadeiras estruturas de oportunidades para os mais vulneráveis, oferecendo auxílio social como cursos de capacitação profissional, dança, música, artes marciais, natação, comunicação, fotografia, além de cederem espaço a coletivos e grupos de jovens para inúmeras finalidades.  Em especial, ter um espaço assim muda o cenário da vida dos jovens da periferia, pois possibilita que se expressem sons que não sejam de medo — e que o corpo viva livre para sonhar, apesar das condições desfavoráveis que a cidade possa apresentar.

No meio de tudo isso, há apenas um irresistível tesão entre a juventude e a cidade. A juventude não apenas vive a cidade: ela inquietamente busca o que pode vir a ser e dá aos seus espaços outros conteúdos. É, através do gozo que vem das suas relações materiais e simbólicas com o espaço, um grito sem pudor, cujo objetivo não é somente ser ouvido, mas ecoar vida!

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