Vou à rua: nomes e memórias nos logradouros de Fortaleza
Data da publicação: 20 de outubro de 2025 Categoria: CRÔNICIDADES
Por: Gleilson Angelo da Silva
Já parou para pensar de onde vêm o nome das ruas? Quem as nomeou? Se já tiveram outro nome ou sempre foi o mesmo? Andar pelas ruas do Centro de Fortaleza é voltar ao passado e viajar no tempo para uma época em que as coisas tinham um ritmo mais devagar.
Nem sempre as ruas do Centro tiveram esses nomes, uma vez que a cidade não tinha o tamanho que possui atualmente, reduzindo-se a poucas ruas que hoje fazem parte do chamado Centro Histórico. Ainda no início do século XIX, juntamente com os primeiros planos de arruamento, houve a identificação de alguns nomes, como: rua da Fortaleza, rua Direita dos Mercadores, rua do Rosário, Beco do Cotovelo, Praça do Conselho, Praça da Carolina, entre outros.
Antigamente, os próprios habitantes nomeavam as ruas e espaços públicos a partir da paisagem. Geralmente escolhiam algo que se relacionasse à paisagem, como um oitizeiro, cajueiro ou um edifício público como a cadeia, o quartel, a Santa Casa de Misericórdia ou também alguma relação com o trabalho como a dos mercadores, dos ourives, das hortas e assim por diante.
Entre 1810 e 1933 houve mudanças significativas que alteraram os nomes das ruas, avenidas e praças, onde havia a rua da cadeia, rua Formosa, rua da Alegria, Praça da Boa Vista, Travessa do Quartel, hoje estão nomes como General Sampaio, Senador Pompeu, Dr. João Moreira, Guilherme Rocha, Floriano Peixoto, Conde D’Eu e tantos outros. Porém, não há mais uma ligação com a própria história da cidade, uma vez que algumas das personalidades sequer pisaram em solo alencarino, reforçando a ideia de identidade e memória que não são levadas em consideração ao nomear um logradouro.
E quem nomeia as ruas atualmente? Desde o início do século XX, a Câmara Municipal é responsável por nomear e oficializar a denominação de logradouros públicos, sendo os mais atuais com propostas que são oficializadas e aprovadas com o nome, a justificativa e a importância da personalidade. Não é permitido o uso de nomes de pessoas vivas, embora possamos encontrar nomes de personalidades que ainda não morreram em alguns bairros da capital.
Mudar o nome de um logradouro, para além de um ato político, revela a distância entre a memória e o lugar, Isso porque personalidades importantes da cultura popular de Fortaleza não nomeiam ruas e avenidas e que só existem na lembrança e nos livros que contam a história da capital alencarina. Pedão da Bananada, Bem-bem e até mesmo o bode Iôiô, eleito vereador em 1922 e que hoje possui um museu só para ele, não figuram nas placas que denominam as ruas nos fazendo refletir que a memória é seletiva e excludente.
Além disso, entender como os antigos nomes contam a história de uma cidade que ficou apenas na memória e na lembrança de quem viveu ou de quem assistiu por vídeos e fotos é compreender os processos e fenômenos que a modificaram. Cada nome tem sua história, repleto de acontecimentos que nos permite apreender quais elementos foram importantes para o desenvolvimento da cidade. Destarte, cada vez que passar em uma rua e olhar aquela placa reflita sobre quem foi aquela pessoa e qual a sua contribuição para o bairro ou para a cidade. Isso é também um exercício de cidadania.
